18 junho 2011

Eugénio de Andrade - As Palavras


São como um cristal, as palavras.

Algumas, um punhal, um incêndio.

Outras, orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.

Inseguras navegam:
Barcos ou beijos, as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes, leves.

Tecidas são de luz e são a noite.

E mesmo pálidas verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta?

Quem as recolhe, assim, cruéis, desfeitas, nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade

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