30 junho 2011

Fernando Pessoa -Lembro-me ou não? Ou sonhei?

Lembro-me ou não? Ou sonhei?
Flui como um rio o que sinto.
Sou já quem nunca serei
Na certeza em que me minto.
O tédio de horas incertas
Pesa no meu coração.
Paro ante as portas abertas
Sem escolha nem decisão.

Fernando Pessoa

Diana - Casulo

Odes de Ricardo Reis (F. Pessoa) - Diana...


Diana através dos ramos
Espreita a vinda de Endinion¹
Edimion que nunca vem,
Endimion, Endimion,
Lá longe na floresta...
E a sua voz chamando
Través dos ramos
Endimion, Endimion...
Assim choram os deuses...
Odes de Ricardo Reis
 (16/06/1914)
1. Pastor dotado de extraordinária beleza que foi amado por Selene.

29 junho 2011


Boa noite!
Ðiana®

Carlos Drummond de Andrade - Amor e seu Tempo




Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe

valendo a pena e o preço terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.
Carlos Drummond de Andrade

28 junho 2011

Boa noite

Ðiana®

Florbela Espanca - Lágrimas Ocultas


Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era q'rida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...


E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das Primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!


E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...


E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim.
Florbela Espanca

27 junho 2011

Boa noite!

Ðiana®

Florbela Espanca - Da minha decepção...

“Da minha decepção só nasce dureza
Do meu Amor Só nasce Tristeza
Não sei o que quero
Mas sei o que não posso ter.”
Florbela Espanca

Mário Quintana - Me entrego pra você


Me leva
por caminhos de amor e prazer
Se inflame na chama do meu corpo
Me sufoca
Me enrosca
De forma natural
se entregue
Me pega
Me laça
Me abraça
Vem me induzir aos seus anseios
e aos meus desejos tão loucos
que aos poucos vão nos consumindo
de tanto amor e prazer
Eu quero seu amor a qualquer preço
Quero que você me tenha por inteiro
Quero seus beijos ardentes
tão doces... tão quentes...
e me embriagar no perfume do seu corpo
para que possamos viajar
nesse amor tão bonito.
Mário Quintana

25 junho 2011

Boa noite!


Ðiana®

Alberto Caieiro (F.Pessoa) - Noite de São João


 
Noite de S. João para além do muro do meu quintal.
Do lado de cá, eu sem noite de S. João.
Porque há S. João onde o festejam.
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite,
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos.
E um grito casual de quem não sabe que eu existo.

Alberto Caieiro
(Fernando Pessoa)

Clarice Lispector - Estrela Perigosa

Estrela perigosa
Rosto ao vento
Marulho e silêncio
leve porcelana
templo submerso
trigo e vinho
tristeza de coisa vivida
árvores já floresceram
o sal trazido pelo vento
conhecimento por encantação
esqueleto de idéias
ora pro nobis
Decompor a luz
mistério de estrelas
paixão pela exatidão
caça aos vagalumes.
Vagalume é como orvalho
Diálogos que disfarçam conflitos por explodir
Ela pode ser venenosa como às vezes o cogumelo é.
No obscuro erotismo de vida cheia nodosas raízes.
Missa negra, feiticeiros.
Na proximidade de fontes,
lagos e cachoeiras
braços e pernas e olhos,
todos mortos se misturam e clamam por vida.
Sinto a falta dele
como se me faltasse um dente na frente:
excrucitante.
Que medo alegre,
o de te esperar.

24 junho 2011

Boa noite!

Ðiana®

Clarice Lispector - Não me provoque...

Não me provoque,
tenho armas escondidas..
Não me manipule,
nasci para ser livre...

Não me engane,
posso não resistir...

Não grite,
tenho o péssimo hábito de revidar...

Não me magoe,
meu coração já tem muitas mágoas...

Não me deixe ir,
posso nunca mais voltar...

Não me deixe só,
tenho medo da escuridão...

Não me tente contrariar,
tenho palavras que machucam...

Não me decepcione,
nem sempre consigo perdoar ...

Não espere me perder
para sentir minha falta!

Clarice Lispector

23 junho 2011

Boa noite!

Ðiana®

Flávio Venturini - Beija – Flor

O que faz o beija - flor
Ter vontade de voar?
Vai e diz ao meu amor
O que viu do meu penar
Vai dizer ao meu grande amor
Que eu sempre vôo tão só
Diz também para o meu amor
É só voltar, beija - flor
O que faz o beija - flor
Ter lampejos cor do mar?
Quando eu penso em você
Meu desejo é navegar
O que faz o beija - flor
Ter mais prata que o luar
Faz o mel da tua flor
Ser mais doce ao paladar
Vai dizer ao meu grande amor
Que eu sempre estou e vôo tão só
Diz também para o meu amor
É só voltar, beija - flor
Quando riscas o céu
És mais doce que o mel
Que tiras da flor
Mais do que viver
Só te importa voar... Beija - flor
O que faz o beija - flor
Ter vontade de voar?
Vai e diz ao meu amor
O que viu do meu penar
Vai dizer ao meu grande amor
Que eu sempre vou tão só
Diz também para o meu amor
É só voltar, beija - flor
É só voltar, beija - flor
É só voltar, beija - flor
É só voltar...

(Composição: Flávio Venturini e Ronaldo Bastos)

Para ouvir a música clique no site.

Alberto Caeiro (F. Pessoa) - O Amor é uma companhia

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.


Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.

Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que
sinto na ausência dela.

Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol
com
a cara dela no meio.

Alberto Caeiro
(Fernando Pessoa)

21 junho 2011

Boa noite!
Ðiana®

Florbela Espanca - Voz que se cala

Amo as pedras, os astros e o luar
que beija as ervas do atalho escuro,
amo as águas de anil e o doce olhar
dos animais, divinamente puro.
Amo a hera que entende a voz do muro
e dos sapos, o brando tilintar
de cristais que se afagam devagar,
e da minha charneca o rosto duro.
Amo todos os sonhos que se calam
de corações que sentem e não falam,
tudo o que é infinito e pequenino!
Asa que nos protege a todos nós!
soluço imenso, eterno, que é a voz
do nosso grande e mísero Destino!...

Florbela Espanca

Cecília Meireles - Língua de Nhem

Havia uma velhinha
que andava aborrecida
pois dava a sua vida
para falar com alguém
E estava sempre em casa
a boa da velhinha,
resmungando sozinha
nhem – nhem – nhem – nhem – nhem – nhem

O gato que dormia
no canto da cozinha
escutando a velhinha
principiou também
a miar nessa língua,
e se ela resmungava,
o gatinho a acompanhava:
nhem – nhem – nhem – nhem – nhem – nhem

Depois veio o cachorro
de casa da vizinha,
pato, cabra e galinha
de cá, de lá, de além
e todos aprenderam
a falar noite e dia
naquela melodia
nhem – nhem – nhem – nhem – nhem – nhem

De modo que a velhinha
que muito padecia
por não ter companhia
nem falar com ninguém
ficou toda contente
pois mal abria a boca
tudo lhe respondia:
nhem – nhem – nhem – nhem – nhem – nhem

Cecília Meireles

20 junho 2011


Boa noite!
Ðiana®

Diana - E lá se vai o Outono...


Da minha janela vejo tantas
Folhas caídas ao chão.
Penso em sonhos, dores, saudades,
Alegrias, tristezas e amores...
Que junto com as folhas
Os ventos os levaram.
Uma brisa suave toca meu rosto.
Penso...
 E assim, mais um ciclo se encerrou.
Ðiana®

Diana - Tentação

Quando um amor acorda tua alma
Incendeia teu corpo,
E enlouquece teu coração,
Trazendo para tua vida o inferno.

Se tiver coragem...
Não pense, feche os olhos
E mergulhe anestesiada
Pelo prazer do pecado.

Quem disse que eu quero
Meus demônios presos...

Um dia os solto todos
Na tua direção.
Ðiana®

19 junho 2011

Boa noite!

Ðiana®

Carlos Drummond de Andrade - O Amor Antigo

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.


Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.
O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza,

por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.
Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o amor antigo, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante,

mais ardente, mas pobre de esperança.

Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

Carlos Drummond de Andrade

Almir Sater - Tocando Em Frente


Almir Sater
...Conta-se que num dia qualquer,
Almir Sater estava em São Paulo para uma temporada,
e desceu do seu apartamento para tomar um
cafezinho num mercado ali perto.
Chegando encontrou Renato Teixeira,
que o convidou para experimentar uma
viola nova que acabara de comprar.

Enquanto tomavam café,
Almir dedilhou a viola e soltou... " Ando devagar"...
Ao que Renato emendou... "porque já tive pressa".

Dizem que essa maravilha ficou pronta em 10 minutos.

Um dia alguém perguntou ao Almir como essa música
fora feita e ele respondeu...

"Ela estava pronta...
Deus apenas esperou que eu e o Renato
nos encontrássemos para mostrá-la pra gente".

Não sei se isso é lenda ou verdade... Tanto faz...
Mas música e letra são realmente espetaculares...
Uma jóia rara, feita num iluminado momento de inspiração.

Então, espero que após ouvirmos possamos aplicar esses ensinamentos, dentro da nossa correria do dia a dia.
Às vezes precisamos andar devagar,
porque não adianta ter pressa.

18 junho 2011

Boa noite!

Ðiana®

Carlos Drummond de Andrade - O Mundo é Grande

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.
Carlos Drummond de Andrade

Marco Antonio Solis - Cómo Fui a Enamorarme de tí


Como fui a enamorarme de ti.
Si yo sabia que no era bueno.
Cuando en tus ojos me vi.
Supe que ya no era yo.
De mi alma el dueño.
Como fui a enamorarme de ti.
Si envejecido estoy de pena.
Como fue que te encontré.
Justo cuando me libre de mil cadenas.
Como fui a enamorarme de ti.
Si bien sabia que no era bueno.
Como fui a caer en este amor.
Que mata, que encierra entre la angustia.
Que cala, que quema.
Que mi sangre envenena.
Que arranca, mi vida cual pétalo a la flor.
Como fui a enamorarme de ti.
Si están mis brazos tan vacíos.
Como fui hacer tan mía esta pasión.
Que mata, que se va la esperanza,
Que parte, que muerde,
En el fondo de mi alma, que grita, y encuentra
Solo vacío y dolor.


Tradução

Como eu estava apaixonado por você

Se eu soubesse que não era bom.
Quando eu estava em seus olhos.
Eu sabia que não era eu.
O proprietário da minha alma.
Como eu estava apaixonado por você.
Se eu sou a tristeza de idade.
Como você encontrá-lo.
Só quando eu abrir um mil cordas.
Como eu estava apaixonado por você.
Enquanto eu sabia que não era bom.
Como eu aterrei neste amor.
Mata fechada e em perigo.
Que creek, queimando.
Meu envenenamento do sangue.
Para começar, minha vida, que pétala da flor.
Como eu estava apaixonado por você.
Se meus braços estão tão vazio.
Como eu faço para a minha paixão isso.
Para matar, que vai a esperança,
Que a mão de morder,
No fundo da minha alma, chorando, e encontra
Apenas o vazio e a dor.