21 junho 2015

Arnaldo Antunes


toda mancha

tem o desenho de uma

poça

com o contorno de uma

rocha

toda mancha

roxa

na pele

                                        ou no papel

                                     onde uma gota

                                     de sangue

                               se derrama

                        no lenço

mancha.png            ou no lençol

      da cama

  como                    

  mangue

   ou ilha

  numa foto

           aérea

              quase

                  esfera

                         filha

                         imprecisa

                                  de orla

                                        que o

                                                                acaso

                                                 forja

                                                    fora

                                                      do destino

                                                           sibilino

                                                                 :

                                                             forma.

                            Arnaldo Antunes

15 novembro 2014

Manoel de Barros

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“E vi as borboletas. E
meditei sobre as borboletas. Vi que elas dominam
o mais leve sem precisar de ter motor nenhum no
corpo. (Essa engenharia de
Deus!) E vi que elas
podem pousar nas
flores e nas pedras sem magoar
as próprias asas. E vi que o Homem não tem
soberania nem pra ser um bentevi.


 
Manoel Barros

14 novembro 2014

Manoel Barros


Manoel Barros

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Quero

       a

          palavra

       que

                 sirva

        na

                    boca

         dos

                     Passarinhos.

 

               Manoel Barros

01 novembro 2014

Metamorfose







Use links below to save image.“A mulher pode ser crisálida e borboleta. Seja crisálida durante o dia e borboleta à noite.”


Coco Chanel



22 outubro 2014

Antoine de Saint-Exupéry







"Em cada um de nós há um segredo,

uma paisagem interior com planícies invioláveis,

vales de silêncio e paraísos secretos."

 
Antoine de Saint-Exupéry



14 setembro 2014

A Pipa e a Flor – Rubens Alves




A história começa com algumas considerações de um
personagem que deduzimos ser um velho sábio.
Ele observa algumas pipas presas aos fios elétricos e aos galhos das árvores e afirma que é triste vê-las assim,
porque as pipas foram feitas para voar.
Acrescenta que as pessoas também precisam ter
uma pipa solta dentro delas para serem boas.
Mas aponta um fator contraditório: para voar, a pipa tem que estar presa numa linha e a outra ponta da linha
precisa estar segura na mão de alguém.
Poder-se-ia pensar que, cortando a linha, a pipa pudesse
voar mais alto, mas não é assim que acontece.
Se a linha for cortada, a pipa começa a cair.
Em seguida, ele narra a história de um menino que
confeccionou uma pipa.
Ele estava tão feliz, que desenhou nela um sorriso.
Todos os dias, ele empinava a pipa alegremente.
A pipa também se sentia feliz e, lá do alto,
observava a paisagem e se divertia com as
outras pipas que também voavam.
Um dia, durante o seu voo, a pipa viu lá embaixo uma
flor e ficou encantada, não com a beleza da flor, porque
ela já havia visto outras mais belas, mas alguma coisa nos olhos da flor a havia enfeitiçado. Resolveu, então, romper a linha que a prendia à mão do menino e dá-la para a flor segurar. Quanta felicidade ocorreu depois!
A flor segurava a linha, a pipa voava; na volta, contava
para flor tudo o que vira. Acontece que a flor começou a
ficar com inveja e ciúme da pipa. Invejar é ficar infeliz
com as coisas que os outros têm e nós não temos;
ter ciúme é sofrer por perceber a felicidade do outro
quando a gente não está perto. A flor, por causa desses
dois sentimentos, começou a pensar: se a pipa me amasse
mesmo, não ficaria tão feliz longe de mim... Quando a pipa voltava de seu voo, a flor não mais se mostrava feliz, estava sempre amargurada, querendo saber com quem a pipa estivera se divertindo. A partir daí, a flor começou a encurtar a linha, não permitindo à pipa voar alto. Foi encurtando a linha, até que a pipa só podia mesmo sobrevoar a flor.
Esta história, segundo conta o autor, ainda não terminou
e está acontecendo em algum lugar neste exato momento.
Há três finais possíveis para ela:

1 - A pipa, cansada pela atitude da flor, resolveu romper a linha e procurar uma mão menos egoísta.

2 - A,
pipa mesmo triste com a atitude da flor decidiu ficar, mas nunca mais sorriu.

3 - A
flor, na verdade, era um ser encantado.
O encantamento quebraria no dia em que ela visse a
felicidade da
pipa e não sentisse inveja nem ciúme.
Isso aconteceu num belo dia de
sol e a flor se transformou numa linda Borboleta e as duas voaram juntas.

 


 

26 junho 2014

Florbela Espanca - Caravelas




Cheguei a meio da vida já cansada
De tanto caminhar! Já me perdi!
Dum estranho país que nunca vi
Sou neste mundo imenso a exilada.

Tanto tenho aprendido e não sei nada.
E as torres de marfim que construí
Em trágica loucura as destruí
Por minhas próprias mãos de malfadada!

Se eu sempre fui assim este Mar-Morto,
Mar sem marés, sem vagas e sem porto
Onde velas de sonhos se rasgaram.

Caravelas doiradas a bailar...
Ai, quem me dera as que eu deitei ao Mar!
As que eu lancei à vida, e não voltaram!...

Florbela Espanca
(in "Livro de Sóror Saudade")