31 março 2012

Boa noite!
Ðiana®

Antonio Calloni - A Mulher dos Trilhos


tu não és meu amor
porque vens falar comigo
com voz desonesta de homem de fácil repertório
tu não és meu amor
porque tens o medo masculino da noite
e queres me salvar
tu não és meu amor
porque como homem não compreendes
meus sorrisos subterrâneo
tu não és meu amor
porque terias pavor do monstro de ferro
a passar sobre ti no meio da noite
eu durmo e o trem passa por mim
porque o espaço é suficiente
e minha noite é feita de feitiços
se acreditares em mim posso te amar
se me amares posso delicadamente te matar
se morrermos, podemos viver, amor meu
talvez em casa grande ou pequena
em paragens verdes ou de cores outras
mas é necessária a primeira coragem
e o risco é tão simples: basta deitar
basta um pouco de repouso pra seres meu amor
se fosses um pouco mulher, não rias, só um pouco
sem perder músculos e pelos
sem perder teu rijo fascínio
sem perder, só ganhar
sem ganhar, só perder
vem, amor meu
e me cobre viril, feito reprodutor de raça
pra depois descansar tua natureza tão igual a de um touro,
ou de uma menina ainda não desenhada
vem, amor meu
e dorme comigo feito irmão como um santo
pra podermos sonhar profundamente
e deixar que o trem passe feroz sobre nós
enquanto dormimos abraçados
abraçados feito dois anjos
para depois do trem acordamos como faunos, como felinos
como homem e mulher
vem, amor meu
o risco é o repouso e se quiseres eu posso te amar

Antonio Calloni


29 março 2012

Fernando Pessoa - Como é por dentro de outra pessoa

Boa noite!
Ðiana®

Fernando Pessoa - Caminho a teu lado mudo

Caminho a teu lado mudo
Sentes-me, vês-me alheado...
Perguntas: Sim... Não... Não sei...
Tenho saudades de tudo...
Até, porque está passado,
Do próprio mal que passei.
Sim, hoje é um dia feliz.
Será, não será, por certo
Num princípio não sei que
Há um sentido que me diz
Que isto — o céu longe e nós perto
É só a sombra do que é ...
E lembro-me em meia-amargura
Do passado, do distante, E tudo me é solidão...
Que fui nessa morte escura?
Quem sou neste morto instante?
Não perguntes... Tudo é vão.
Fernando Pessoa

28 março 2012

Boa noite!
Ðiana®

Flora Figueiredo - Expectativa

O Vento anda ficando mentiroso:
prometeu trazer você,
não trouxe;
de dizer o porquê, não disse;
esperou que eu me distraísse,
passou com pressa, rumo ao horizonte.
Já não tem importância
que cometa outra vez
um ato de inconstância.
Aprendi a esperar.

Se ventos são capazes de levar embora,
a qualquer hora,
também serão capazes
de fazer voltar.

Flora Figueiredo

25 março 2012

Boa noite!
Ðiana®

Ivan Lins - Iluminados

O amor tem feito coisas
Que até mesmo Deus duvida
Já curou desenganados
Já fechou tanta ferida

O amor junta os pedaços
Quando um coração se quebra
Mesmo que seja de aço
Mesmo que seja de pedra
Fica tão cicatrizado
Que ninguém diz que é colado

Foi assim que fez em mim
Foi assim que fez em nós
Esse amor iluminado
.

23 março 2012

Boa noite!
Ðiana®

Mário Quintana – Tristeza de Escrever

                                  

Cada palavra é uma borboleta morta espetada

                                                    na página:

Por isso a palavra escrita é sempre triste...



Mário Quintana

22 março 2012

Boa noite!
Ðiana®

Mário Lago - Devolve

 Mandaste as velhas cartas comovidas
que na febre do amor
te enviei...
Mandaste o que ficou de duas vidas:
um romance, uma dor que eu provei...
Mandaste tudo, porém,
falta o melhor que eu te dei..

Devolve toda a tranqüilidade
Toda a felicidade
Que eu te dei e que perdi

Devolve todos os sonhos loucos
Que eu construí aos poucos
E te ofereci

Devolve, eu peço, por favor
Aquele imenso amor
Que nos teus braços esqueci

Devolve, que eu te devolvo ainda
Esta saudade infinda
Que eu tenho de ti.


Mário Lago

19 março 2012

Boa noite!
Ðiana®

Quero dos Deuses - (Ricardo Reis)



Quero dos deuses só que me não lembrem.
Serei livre - sem dita nem desdita,
Como o vento que é a vida
Do ar que não é nada.
O ódio e o amor iguais nos buscam; ambos,
Cada um com seu modo, nos oprimem.
A quem deuses concedem
Nada tem liberdade.


Fernando Pessoa
(Ricardo Reis)

18 março 2012

Boa noite!
Ðiana®

Poema de Domingo - Carlos Drummond de Andrade


Poema que aconteceu
Nenhum desejo neste domingo
nenhum problema nesta vida
o mundo parou de repente
os homens ficaram calados
domingo sem fim nem começo.
A mão que escreve este poema
não sabe o que está escrevendo
mas é possível que se soubesse
nem ligasse.
Carlos Drummond de Andrade

17 março 2012

Posso  me abrir ou me fechar.
 Vai depender de...
Boa noite!
Ðiana®

Clarice Lispector


 “...há impossibilidade de ser além do que se é
no entanto eu me ultrapasso mesmo sem o delírio,
sou mais do que eu, quase normalmente
tenho um corpo e tudo que eu fizer é continuação
de meu começo...
A única verdade é que vivo.
Sinceramente, eu vivo.
Quem sou?
“Bem, isso já é demais...”

Clarice Lispector

16 março 2012

Boa noite!

Ðiana®

José Saramago - Destino


“Afinal, há é que ter paciência,
dar tempo ao tempo,
já devíamos ter aprendido,
e de uma vez para sempre,
que o destino tem de fazer
muitos rodeios para chegar
a qualquer parte.”

José Saramago

14 março 2012

Boa noite!

Ðiana®

Clarice Lispector

                                                                                                                    " Os
                                       espertos
                          ganham
                     dos
         outros,
                    em      
                        compensação
                                             os
                                               bobos
                                                       ganham
                                                                   a
                                                                     vida. "
Clarice Lispector

10 março 2012

Boa noite!

Ðiana®

Martha Medeiros

“Se você perceber qualquer tipo de constrangimento,
não repare, eu não tenho pudores mas, não raro,
sofro de timidez.

E note bem: não sou agressiva, mas defensiva.

Impaciente onde você vê ousadia.

Falta de coragem onde você pensa que é sensatez.

Mas mesmo assim, sempre  pinta um momento qualquer em que eu esqueço todos os conselhos  e sigo por caminhos escuros. Estranhos desertos.”

Martha Medeiros