Tacendo il nome di questa gentilíssima.
Dante
(1864)
Tu nasceste de um beijo e de um
olhar. O beijo
Numa hora de amor, de ternura e
desejo,
Uniu a terra e o céu. O olhar foi do
Senhor,
Olhar de vida, olhar de graça, olhar
de amor;
Depois, depois vestindo a fórma pegrina,
Aos meus olhos mortais, surgiste-me,
Corina!
De um júbilo divino os cantos
entoava
A natureza mãe, e tudo palpitava,
A flor aberta e fresca, a pedra
bronca e rude,
De uma vida melhor e nova juventude.
Minha alma adivinhou a origem do teu
ser:
Quis cantar e sentir; quis amar e
viver;
A luz que de ti vinha, ardente,
viva, pura,
Palpitou, reviveu a pobre criatura;
Do amor grande, elevado,
abriam-se-lhe as fontes;
Fulgiram novos sóis, rasgaram-se
horizontes;
Surgiu, abrindo em flor, uma nova
região;
Era o dia marcado à minha redenção.
Era assim que eu sonhava a mulher.
Era assim:
Corpo de fascinar, alma de querubim;
Era assim: fronte altiva e gesto
soberano,
Um porte de rainha a um tempo meigo
e ufano,
Em olhos senhoris uma luz tão
serena,
E grave como Juno, e bela como
Helena!
Era assim, a mulher que extasia e
domina,
A mulher que reúne a terra e o céu:
Corina!
Neste fundo sentir, nesta
fascinação,
Que pede do poeta o amante coração?
Viver como nasceste, ó beleza, ó
primor,
De uma fusão do ser, de uma efusão
do amor.
Viver, — fundir a existência
Em um ósculo de amor,
Fazer de ambas – uma essência,
Apagar outras lembranças,
Perder outras ilusões,
E ter por sonho melhor
O sonho das esperanças
De que a única ventura
Não reside em outra vida,
Não vem de outra criatura;
Confundir olhos nos olhos,
Unir um seio a outro seio,
Derramar as mesmas lágrimas
E tremer do mesmo enleio,
Ter o mesmo coração,
Viver um do outro viver...
Tal era a minha ambição.
Donde viria a ventura
Desta vida? Em que jardim
Colheria esta flor pura?
Em que solitária fonte
Esta água iria beber?
Em que encendido horizonte
Podiam meus olhos ver
Tão meiga, tão viva estrela,
Abrir-se e resplandecer?
Só em ti: — em ti que és bela,
Em ti que a paixão respiras,
Em ti cujo olhar se embebe
Na ilusão de que deliras,
Em ti, que um ósculo de Hebe
Teve a singular virtude
De encher, de animar teus dias,
De vida e de juventude...
Amemos! diz a flor à brisa
peregrina,
Amemos! diz a brisa, arfando em
torno à flor;
Cantemos esta lei e vivamos, Corina,
De uma fusão do ser, de uma efusão
do amor.
Machado de Assis
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