No armário do meu quarto
escondo de tempo e traça meu vestido estampado em fundo preto. É de seda macia
desenhada em campânulas vermelhas à ponta de longas hastes delicadas. Eu o quis
com paixão e o vesti como um rito, meu vestido de amante. Ficou meu cheiro
nele, meu sonho, meu corpo ido. É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada:
eu estou no cinema e deixo que segurem a minha mão. De tempo e traça meu
vestido me guarda.
Adélia Prado
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